quarta-feira, 13 de maio de 2009

Encontro no tempo

Ele entrou no quarto e deu uma olhada pra sua filhinha e sua esposa dormindo, Deus como elas estavam lindas! Pareciam 2 anjos, seguiu até a varanda e viu a lua iluminando tudo a sua volta, a nuvens pareciam vistir-se de seu brilho, nesse momento ele fechou os olhos, era chegada a hora, a rua estava em profundo silêncio, parecia que a noite também estava se preparando para o que iria acontecer. Tinha que ser naquele momento, a janela do tempo havia se aberto e seguindo as instruções que havia recebido do seu amigo desconhecido ele teria que se concentrar muito rápido pois a janela permaneceria aberta por apenas alguns minutos, depois disso ela iria se fechar e se deslocaria pra outro ponto de algum universo levando-o para algum lugar onde ele provavelmente não sobreviveria, então na varanda restaria apenas seu corpo sem alma caído no chão o que provavelmente iria causar uma grande dor de cabeça em sua esposa, e sua filha iria crescer sem pai. O tempo de uma breve música, esse foi o que seu amigo lhe disse, então ele escolheu uma música para lhe acompanhar na viajem e sabia que quando essa música estivesse no fim ele teria que abrir novamente os olhos. Escolheu apropriadamente uma música da época em que voltaria, escolheu "Heaven Knows I_m Miserable Now" dos Smiths, Assim aconteceu.
Abriu seus olhos devagar, sua visão estava um pouco embassada provavelmente pelo deslocamento do tempo, e estava lá, numa festa em que ele não mais se lembrava, nela todos os amigos que um dia conhecera, alguns ele lembrava outros não. Estavam todos lá. Andou até eles, comprimentou a todos com um breve mas forte abraço, ninguém entendeu muito bem do porquê seus olhos estarem emaranhados, viu seu melhor amigo que morrera anos depois, sua vontade era de falar para ele nunca se meter com motocicletas, "Fique longe disso!". Mas ele não disse nada, ele não mexeu no passado, ele apenas o olhou e disse com um ar carinhoso "Como vai meu grande irmão, é bom vê-lo novamente" Seu amigo retribuíu abraçando-o como se soubesse que ele estava vindo de longe, parecia que alguma coisa estava dizendo que aquele momento era ímpar. Ele olhou pra seu lado e estava outro amigo que perdera meses antes da viajem, também o abraçou e agradeceu "Muito obrigado por ter escrito aquelas palavras tão bonitas no meu Orkut, quero te dizer que sinto o mesmo por você, e que posso me sentir melhor por te dizer isso pessoalmente". Seu amigo não entendeu nada,
"Orkut? Eu escrevi? Você bebeu?". Ele sorriu e ficou aliviado por ter dito essas palavras, a viajem já havia valido a pena. "Oi baixinha, tudo bem? Fica tranquila que o Adolfo vai chegar!". Outra que não entendeu nada. e assim foi Cézar, Juneu, Renato, Everaldo até com o Rúbio ele conversou brevemente, a música estava quase acabando.
O Niltão estava com aquele ar de debochado olhando para ele como se tivesse colocado uma barata em seu caderno e depois jogado um bolo de lama na sua blusa de moletom, ele um dia seria um de seus melhores amigos. Olhou para um canto da festa e lá estava ela, sua primeira namorada, como ela era linda, ironicamente loira de olhos azuis como sua filhinha, ele sorriu pra ela com ar de cortesia, ela sorriu para ele meio sem graça, talvez porque na época em que ele se encontrava no tempo eles não estivessem mais namorando e ela já tivesse outro namoradinho, ele se lembrou da sua esposa que ele deixou no presente, ele sentiu saudade da sua filha, ele lembrou o quanto ama sua esposa e o quanto ama sua vida, e percebeu que o tempo é maravilhoso e que fez o certo em não dizer nada do futuro aos seus amigos pois todos passamos pelo que tivermos que passar, a dor ou a alegria é individual e intransferível, e somos o reflexo dos nossos erros e nossos acertos, não tinha que mudar nada! O volume da música em sua cabeça estava diminuindo, a música estava acabando, a festa iria continuar, a música tocaria pra sempre em algum lugar no tempo, ele fechou os olhos, o som dos seus amigos conversando foi diminuindo também, ele continuaria na festa, mas sua alma estava retornando no tempo. Abriu os olhos, sentiu uma leve brisa bater em seu rosto como se a janela do tempo estivesse indo embora e deslocando o vento a sua volta, a lua ainda estava lá linda e radiante, ele entrou no quarto, viu sua mulher e sua filhinha, deu um beijo em sua esposa, um leve beijo em sua filha que deu um sorrizinho de lado, parecia estar sonhando, deitou ao lado delas e dormiu, nesse dia ele não sonhou.

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